O mapa da fome no cenário mundial
Como defendido por Josué de Castro (1984), a fome não traduz uma imposição da natureza, uma vez que não são fatores naturais que conduzem grupos humanos à situação de fome e, sim fatores econômicos, sociais e culturais, produtos de erros e defeitos graves das organizações sociais em jogo, isto é, a fome é uma questão política.
Não nos falta alimento, muito menos meios para produzi-los, no entanto, nem todos realizam sequer uma refeição por dia. É este um problema de distribuição, criada e controlada pela civilização a partir do momento que passou a acumular riquezas (CASTRO, 1984).
Fonte: Food and Agriculture Organization of the United Nations (FAO, 2022).
Como uma das medidas para erradicar a fome, promover a segurança alimentar e nutricional e analisar os desafios do cumprimento dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS), a FAO realiza, anualmente, o relatório do Estado da Segurança Alimentar e Nutricional no Mundo, sendo contemplado também pelo Mapa da Fome - ilustrado ao lado. Também apresenta como objetivo alcançar políticas públicas, organizações internacionais, comunidade acadêmica e público em geral.
O mapa é ilustrado por cores e o tom mais claro representa a menor porcentagem de pessoas, considerando o total da população. À medida que o tom fica mais forte, o número de pessoas aumenta. Dessa forma, podemos destacar que a Europa, juntamente com a América do Norte, Oceania e grande parte da Ásia representam áreas com baixa ou nenhuma prevalência de pessoas com fome. Já a África, indiscutivelmente é o continente com o maior número de famintos. É relevante também prestar atenção nos outros continentes - América do Sul, América Central.
Contextualizando o panorama mundial, é incontestável que a pandemia da Covid-19 agravou a fome no mundo, porém, sabe-se que ela não foi a causa de um problema antigo. Retomando, mais uma vez, Josué de Castro, em Geopolítica da Fome (1961), defende:
"Para extirpar a fome da superfície da terra, é necessário, pois, levantar os níveis de produtividade dos povos ou grupos marginais, integrando-os, através do progresso econômico, na comunidade econômica mundial. E este aumento da produtividade depende de inúmeros fatores, dos quais o mais importante é, sem duvida, o tipo de organização da exploração econômica, de que participam os indivíduos. (...) A chamada economia colonial, à base da qual prosperam as potencias industrializadas, obtendo nas colônias matérias primas a baixo preço, constitui um desses tipos de exploração econômica incompatível com o equilíbrio econômico do mundo." (1961, p. 396)
Décadas depois e, interpretando a legenda, ainda conseguimos visualizar o domínio dos colonizadores e a exploração sofrida pelos colonizados. O quão difícil é solucionar um problema que permeia décadas?
Referências:
CASTRO, J. Geografia da Fome. 10a ed., Rio de Janeiro: Ed. Antares. 1984.
CASTRO, J. Geopolítica da Fome. 6a ed., São Paulo: Ed. Brasiliense. 1961.
FOOD AND AGRICULTURE ORGANIZATION OF THE UNITED NATIONS. The State of Food Segurity and Nutrition in the World. Disponível em: <https://www.fao.org/publications/sofi/2022/en/>. Acesso em: 6 dez. 2022.